quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sonhos - dois pequenos trechos

Sonhar é algo que não me falta e ao mesmo tempo me fascina. Todas as noites encontro os mais terríveis escrúpulos e as mais deliciosas aventuras. Coincidentemente ou não, os dois últimos livros que li/estou lendo contém alguns trechos que falam a respeito de sonhos. Acho que não preciso dizer que foram meus favoritos, não é? Por isso decidi que deveria colocá-los aqui. Não os quero perder de mim tão cedo.

"Antes de concluir este capítulo, fui à janela indagar da noite por que razão os sonhos hão de ser assim tão tênues que se esgarçam ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo, e não continuam mais. A noite não me respondeu logo. Estava deliciosamente bela, os morros palejavam de luar e o espaço morria de silêncio. Como eu insistisse, declarou-me que os sonhos já não pertencem à sua jurisdição. Quando eles moravam na ilha que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu palácio, e donde os fazia sair com as suas caras de vária feição, dar-me-ia explicações possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os sonhos antigos foram aposentados, e os modernos moram no cérebro da pessoa. Estes, ainda que quisessem imitar os outros, não poderiam fazê-lo; a ilha dos sonhos, como a dos amores, como todas as ilhas de todos os mares, são agora objeto da ambição e da rivalidade da Europa e dos Estados Unidos."

 Dom Casmurro - Machado de Assis





"Eu não media a extensão dos sonhos, ou se é um corredor tortuoso. Nem quanto eles voltam semelhantes, parelhos. E nem se concebe quando neles ficamos claro, escuros ou reais.

As imagens se aprofundam, mais que os corpos. Como se fossem bacias e eles, a camada morna de água. E a minha humanidade ou desumanidade queima nos objetos, quando os sonhos também queimam.

E foi assim que vi morrer o amigo Artêncio. Uma moléstia sem nome o atacou e ele morreu sonhando."


Carta aos loucos - Carlos Nejar

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