terça-feira, 27 de julho de 2010

Água Viva - Clarice Lispector

"A praia estava cheia de vento bom e de uma liberdade. E eu estava só. Sem precisar de ninguém. É difícil porque preciso repartir contigo o que sinto. O mar calmo. Mas à espreita e em suspeita. Como se tal calma não pudesse durar. Algo está sempre por acontecer. O imprevisto improvisado e fatal me fascina. Já entrei contigo em comunicação tão grande que deixei de existir sendo. Você tornou-se um eu. é tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar: olhei para você fixamente por uns instantes. Tais momentos são meus segredos. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade. Estou terrivelmente lúcida e parece que alcanço um plano mais alto de humanidade. Ou da desumanidade - o it."

Talvez não entendam porque ando de cima a baixo com um livro de Clarice Lispector; deixe-me explicar, para mim tornou-se um símbolo tão importante quanto uma bíblia é para um cristão. Acho incrível como encontro abrigo em suas palavras sempre, não importa quão estranha, louca e confusa eu julgue minha situação. Esse trecho há tempos eu já havia escrito na parede do meu quarto, busquei-o sabendo que encontraria um pouco de alívio. Encontrei.

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